Não uso maquiagem: e daí?

por Júlia Pires

Nunca fui muito vaidosa. Nunca liguei muito para essas coisas de cabelo, porque nasci com o cabelo muito liso e até hoje ele é muito liso (e quando resolvo, finalmente, me dedicar um pouco a ele e fazer cachos, eles duram uns 10 minutos). Também nunca liguei para maquiagem. É raro eu me maquiar. Geralmente, quando saio, eu passo um rímel e um blush, no máximo. Também não gosto de roupas muito “chiques” e odeio salto, não só pelo fato de eu ser alta, mas porque acho muito, muito desconfortável.

Quando saio com as minhas amigas, costumo ficar mais de uma hora esperando elas ficarem prontas. Fico na cama, mexendo no celular e me divertindo enquanto vejo elas se arrumarem, e elas sempre insistem para eu me maquiar e me arrumar mais, mas eu simplesmente não gosto. Um dia, essa dinâmica me marcou. A gente tinha uma festa para ir, e marcamos de se arrumar na casa de uma dessas minhas amigas. Chegando lá, de novo: elas ficaram  horas para escolher a roupa e, no final, me parecia que estavam todas iguais: saia colada, blusa de cetim e salto alto. Depois disso, demoraram mais uma hora para se maquiar, e eu fiquei olhando aquele monte de coisa que elas passavam. Chega ser engraçado… Dois tipos de rímel, lápis para pintar a sobrancelha, corretivo para tirar as olheiras, sombra para os olhos, pó para ficar mais morena, blush para ficar rosada, batom e outras coisas que não lembro, enquanto eu coloquei um rímel e um blush, me troquei em 10 minutos e estava me sentindo OK com minha legging, um tênis e uma camiseta do meu pai (aliás, amo usar roupas do meu pai! hihi).

Uma amiga me olhou e falou para eu me arrumar mais, porque todo mundo iria estar arrumado na festa, e eu falei: “e daí? Eu não sou todo mundo, eu vou do jeito que eu quero e do jeito que me sinto confortável”. Não é que eu julgue as minhas amigas, e nem que eu ache que “meu jeito” de vestir é o “certo’; até porque isso não existe. Todo mundo deveria fazer o que quer com o próprio corpo, e “se montar” entra nisso também. Mas fico pensando em como são só as mulheres que “perdem” tanto tempo se arrumando, que gastam tanta grana comprando cinco tipos diferentes de rímel, e que, no fim, podem até deixar de se divertir porque o sapato está machucando, porque a saia está pinicando e porque o cabelo fica grudando na maquiagem derretida. Mas meu ponto é: se tem gente que gosta de se maquiar, por que é que eu não posso não gostar, sem ser taxada de relaxada? Por que não posso usar meus tênis sem que fiquem me enchendo o saco?

Por que eu não posso lidar com a minha vaidade do jeito que eu quero?

Júlia Pires, 20 anos, leonina, estudante de publicidade, ama cachorros, viajar e arte em geral.