por Helô D’Angelo
“Tudo começou quando minha filha, Clara, nasceu”. Assim a atriz e produtora cultural Graziela Mantoanelli inicioua conversa com a gente. E arrepiou. Foi amamentando que ela percebeu o quanto a informação de qualidade e o apoio da família, dos amigos e dos médicos ajuda nessa primeira fase da relação entre mãe e bebê. E foi aí que surgiu “De peito aberto”, um documentário sobre o aleitamento materno que tem como objetivo desmistificar o tema, acabando com idealizações e preconceitos.
No filme, cinco mães resolvem alimentar os filhos recém nascidos apenas com leite materno, durante os primeiros seis meses de vida. Sem nenhuma pretensão de fazer dinheiro, a produção está pedindo contribuições no site de financiamento em grupo benfeitoria, e foca em informar e empoderar mães pelo Brasil inteiro. Afinal, como disse Graziela, “tudo começa na amamentação”. Confira nossa entrevista com a produtora:
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Eu, Tu, Elas: Como surgiu a ideia do filme “De peito aberto”? Qual foi a primeira provocação?
Graziela Mantoanelli: A primeira provocação foi minha filha, Clara. Hoje, ela tem 2 anos e 10 meses, mas quando ela nasceu, eu fui uma das mães que lutou muito para alimentar o bebê exclusivamente com leite materno, como manda a Organização Mundial da Saúde. Passei por muitas dificuldades, mesmo sendo bem informada, tendo o apoio da família e tendo uma rede ao meu redor. Eu comecei a me dar conta de que existem mulheres que não têm tudo isso.
Eu sentia que falar sobre isso era um tabu, porque as epsacham que amamentar é natural, fácil, que o bebê nasceu, acabou. Mas não é assim. É uma fase muito difícil, ainda mais quando a mulher tem pouca informação e está sozinha.
Mas também é uma fase importante, porque tudo começa na amamentação. O leite materno é o primeiro contato do bebê com o mundo, e se fala muito pouco disso. E, quando se fala, é de um jeito idílico e romantizado que não tem nada a ver com a realidade. Cuidar de um bebê recém nascido é muito dificil, a mulher precisa de toda uma rede, não consegue sozinha.

Além da romantização, existe um preconceito em relação à amamentação, né?
Sim, super! Tem muita falta de informação. A questão de que o leite materno não é o suficiente para o bebê é algo que as indústrias médica e farmacêutica vêm trazendo desde os anos 60. os próprios profissionais de saúde substituem o aleitamento de forma indiscriminada. É um horror.
Tem mulheres que não querem amamentar, e eu entendo. Se ela não quer, o corpo é dela. Mas ela precisa ser informada o suficiente para conseguir fazer essa escolha de uma forma melhor. A mulher precisa saber, por exemplo, que o leite materno previne doenças como obesidade e diabetes na infância e na vida adulta.
Nós vivemos em uma sociedade machista, que não pensa sobre isso, que não fala disso. Até a nossa página no Facebook foi derrubada por, segundo o site, veicular pornografia, você acredita? Ficamos três semanas fora do ar porque postamos imagens de mulheres amamentando. Perdemos quase um mês de campanha, já que o Facebook é nossa principal ferramenta de mobilização.
A sociedade esquece que a função do seio é alimentar os filhos, e não entende que a amamentação pode gerar seres mais empáticos, porque a mãe se dedica para o filho. A gente precisa colocar essa semente nos nossos filhos, e a dedicação é uma das formas de fazer isso.
O que significa esse tema para você?
Acho que é importante dizer que o tema do filme é amamentação, mas estamos falando, na verdade, dos direitos das mulheres, e do lugar das mulhere na sociedade. E isso engloba tanta coisa! É o respeito, a igualdade, a melhor forma de realizar as escolhas por nós mesmas, a liberdade.
Temos que garantir a escolha da mulher. Para fazer isso, precisamos primeiro fortalecê-la trazendo informações de qualidade para ela. Essa é a nossa intenção.

