Mulher, seu trabalho não é perdoar

por Natália Martins | imagem de capa: Henn Kim

Às vezes a gente termina o dia se sentindo ridícula enfiando comida goela abaixo e stalkeando até a décima sétima geração daquela decepção em volta do pau que cruzou nossa vida. Que a gente jurou ser diferente. Que levamos de trambolho pra balada e apresentamos pras amigas.

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Créditos: Henn Kim

Às vezes a gente fica se sentindo do tamanho de um átomo por ter corrido atrás do ônibus que foi embora do ponto sem esperar. Ou se olha pelada no espelho antes do banho e sente vergonha de si mesma. E levanta os braços pra ver como o peito daria mais orgulho caso fosse durinho que nem os do pornozão.

Às vezes a gente tá passando por um período desanimador em que nada parece andar pra frente porque ainda estamos presas demais ao passado. Às vezes a gente coloca músicas de ódio em looping só pra ficar remoendo o que ficou preso na garganta.

Porque fica mesmo.
Mas calamos. Deixamos passar.

Ele não sabe o que aquele comentário fez com tua auto estima. Foi sem querer. Também não imagina quanta pressão colocou em cima da relação de vocês por causa do ego enorme que conserva. Não. O rapaz só tava tentando fazer tudo certo, coitado. Deixa pra lá. Ninguém vai acreditar. Talvez nem ele.

E seguimos nos sentindo patéticas.

Engolindo a ânsia de grito que surge toda vez que alguém toca no nome do falecido. Revirando os olhos. Mantendo mágoas em cárcere privado por não ter estrutura pra lidar com o medo de ter sua palavra diminuída. De ter sua imagem denegrida. De comprar uma briga que já tem vencedor.

Eu só apareci pra dizer que tá tudo bem.

Tá tudo bem não ser a namorada dos sonhos de alguém. Tudo bem não ser a melhor transa da vida do cara, não corresponder às expectativas, não aparecer no churrasco de domingo da família dele. Tudo bem não querer compromisso com alguém, mandar solicitação de amizade de repente, perguntar pra onde a relação tá indo. Tudo bem perder a paciência, se sentir um objeto, se arrepender de tudo que abdicou em nome da demanda alheia. Tudo bem ter sido traída de novo. Tudo bem ter chorado escondida. Tudo bem ter ódio de quem te abusou. Não terceiriza a culpa dele pra você. Tá tudo bem não conseguir deixar pra lá. Tudo bem só ter percebido depois. Isso não é idiota, não.

O impacto emocional causado por um homem muitas vezes nos torna reféns da culpa pelo rancor deixado. Afinal, não pode resgatar mágoa. Tem que superar. Tem que publicar foto com as amigas em Búzios. Tem que fingir que não machucou, que ambos são maduros e só vida que segue. Ele é homem, né? É assim mesmo.

Não é assim mesmo.

Pode ficar virada no capiroto sim. Pode terminar o relacionamento por causa daquele detalhe que ele diz ser besteira. Pode contar pra atual que ele se comporta como uma criança de 11 anos de idade. Pode rasgar cartas, apagar fotos, deixar todos os conhecidos pasmos porque decidiu escancarar.

Você é a única pessoa que sabe o tamanho do machucado.

Escuta aqui: ninguém patrocina nossa omissão.
Mulher, teu trabalho não é perdoar.

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Natália Martins

19 comentários

  1. Que bosta, quer falar de ego, sendo egoísta Da mesma forma que a mulher pode querer terminar por um comentario infeliz, o homem também pode ué, ninguém é perfeito e deve tentar ser perfeito 100% do tempo. feminismo: cancer

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  2. Não concordo com nada do que disse, muito pelo contrário precisa entender melhor a realidade antes de publicar esse tipo de texto. Sem serventia nenhuma.

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  3. Olha esse último parágrafo depois de “Não é assim mesmo”. Todas essas coisas que você diz que a mulher pode fazer soariam super abusivas se um homem fizesse né..? Pois é.

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  4. Olá. Eu me identifiquei com o texto. Acabei de passar por uma situação que quase me derrubou. Demorei muito para reconhecer o meu relacionamento de 5 anos como abusivo. Depois do ultimo episodio nao tive dúvidas. Obrigada por compartilhar deus pensamentos. Eu me sinto melhor. 😉

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  5. Olá, o texto traduz a experiência de muitas mulheres. Quem, depois de de uma briga onde tem certeza de não ter culpa alguma, não saiu batendo as coisas e limpando a casa em desespero e raiva.
    Qual mulher não se sente mal, depois do sexo, quando o cara simplesmente vira para o lado e dorme. E você fica ali, imaginando se ele não poderia ficar mais uns cinco minutos presente…
    À mulher foi estabelecido que deve sempre dar a razão.
    Por quê? Para quê?
    Sintamos menos desdém por nós mesmas. Você tem o poder de ser mais feliz e menos “serviçal” das emoções alheias.

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  6. É galera! “…ainda estamos como nossos pais…” Gritamos tanto, na minha geração mas, essa liberdade que diz o texto, demanda muiiiita luta ainda meninas!!

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